Educadores, vereadores e entidades da sociedade civil estão se mobilizando em torno da proposta de lei que fixa a data no calendário da cidade
Por Guilherme Weimann
A aprovação de uma lei que garanta a realização da Semana Municipal do Brincar não é um fim, mas um meio que permite, além do apoio do Estado, a união de diversos atores que, na maioria dos casos, já estão atuando em prol da pauta em seus territórios. Essa não é uma reflexão abstrata, mas fruto de uma mobilização que se iniciou há alguns anos em Aracaju (SE).
Concomitantemente à formação do núcleo da Aliança pela Infância na cidade, em 2010, surgiram as primeiras iniciativas voltadas à disseminação do livre brincar: contações de estórias, gincanas, teatrinhos, encontros, trocas de saberes e muitas brincadeiras ocorreram desde então.
Ao longo desse processo, muitas pessoas foram se somando, incluindo o atual coordenador do núcleo da Aliança pela Infância, o educador Leonardo Marques Paschoal. “A gente quer resgatar brincadeiras tradicionais, mais livres, porque atualmente elas estão muito conduzidas, tem muita urbanidade em Aracaju neste sentido. Você vai ao shopping e tem mil crianças brincando toda hora por lá, mas não é esse brincar que estamos tentando resgatar”, avalia.
Visão semelhante é compartilhada pela advogada e pedagoga Tatiane Menezes, integrante do Grupo de Mobilização de Aracaju pela aprovação da Lei da Semana Municipal do Brincar, formado por aproximadamente 30 pessoas. “A gente pretende resgatar o brincar livre, mais conectado com a natureza, em contato com outras crianças, presencial, físico, que incentive a imaginação. Eu vejo a mobilização em torno do projeto de lei como uma grande oportunidade de resgatar essas brincadeiras tradicionais, brincadeiras ao ar livre, inseridas na comunidade”, opina.
Apoios
Para viabilizar o objetivo de espalhar esse conceito outro de brincar – que escapa à lógica difundida por meio da educação formal e da mídia –, Tatiane está à frente de diálogos com diversos atores e entidades do município.
A proposta para apresentação de um projeto de lei está sendo debatida com vários atores do sistema de garantia de direitos da cidade, como a Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Sergipe, através das comissões da Infância, Adolescência e Juventude e Direito Educacional; o Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente de Aracaju; e vereadores.
“A nossa intenção é fazer uma construção coletiva, conversar com diversas organizações para tentar deixar o projeto a cara de Aracaju e possibilitar que outras pessoas possam opinar”, explica.
Praticamente todas as pessoas e entidades que têm recebido o projeto estão se comprometendo a colaborar de alguma forma para a sua aprovação. Para a educadora Josiene Carvalho, integrante da Associação Ciranda Criativa, esse processo está sendo muito positivo no sentido de agregar cada vez mais apoio ao tema.
“A gente tem pensado algumas estratégias para potencializar um engajamento intersetorial em torno do projeto de lei. A ideia é sensibilizar o maior número de pessoas, com entrevistas em meios de comunicação e diálogos com outras organizações. Além disso, existe a proposta de uma culminância, que seria um evento com o objetivo de reunir todas essas instituições e pessoas que estão engajadas para a aprovação da lei”, resume.
Próximos passos
O grupo de Aracaju participou de um ciclo de formação entre fevereiro e abril. Junto com outros nove municípios, a Jornada de Mobilização da Semana Municipal do Brincar na Lei, organizada pela Aliança pela Infância e pelo Movimento Unidos pelo Brincar, buscou possibilitar trocas de experiências, aprofundamento da legislação e, principalmente, a elaboração de um plano de mobilização para aprovação da lei.
Todos esses esforços serão agrupados justamente na Semana Mundial do Brincar, que acontece entre os dias 21 e 29 de maio com o tema “Confiar na força do brincar”. Com a concentração temporal de diversas atividades em todo o país, a ideia é chamar atenção e angariar o maior número de apoiadores na sociedade civil.
Entretanto, mesmo que aprovada, a lei sozinha não será suficiente para garantir o livre brincar em Aracaju. Essa é a opinião da pedagoga Mony Grazielle, integrante da Associação Ciranda Criativa. “Eu não tenho dúvida que a lei vai vir, mas ela não basta. Não basta ter uma lei, quem terá que colocá-la em prática somos nós. Espero que, mesmo após a sua aprovação, a gente consiga manter todas as mobilizações. E não tenho dúvidas que vão vir coisas boas a partir daí”, conclui.